Nas décadas de 20 até 40 a indústria fonográfica produzia músicas feitas por negros apenas para negros. Era a chamada “race music”, expressão que revelava como a segregação de raças possuía uma dimensão não apenas social, mas também econômica.
Havia lojas separadas de acordo com a cor de pele do comprador, espaços físicos que vendiam só para negros ou só para brancos. A música negra não tocava na rádio. Ainda que muita coisa rentável tenha sido apropriada da cultura africana, a música negra não oferecia o mesmo status ou oportunidades. Ao menos, no início.
O blues que originou o rock, por exemplo, sempre foi bastante colorido. O samba rock (veja sobre ele aqui) que resgatou e uniu duas matrizes musicais de raízes africanas, começou a ganhar espaço no Brasil em 1960. A música não apenas acompanhou a trajetória do povo preto, mas também revelou muito de sua história. O samba que nasceu no Rio de Janeiro foi gerado no ventre baiano e o seu material genético é bem africano.
A escravidão não dava opções e a fé conservou as crenças, as tradições e alguns costumes. Na Bahia atracaram navios de escravos sem direito a bagagens e poucas coisas conservadas como seus pertences: as memórias pessoais, talvez. A Bahia como palco de processos históricos foi distribuindo diversidade pelo país.
Tanto que o Rio de Janeiro com sua cena artística sempre badalada, se viu contagiado pelos efeitos da migração baiana aos subúrbios – em busca de condições de vida e emprego. Os terreiros de candomblé e umbanda também vieram, e reuniam comunidades em festas. Os costumes gastronômicos e as músicas faziam seu papel socializador – casas de mães de santos e terreiros viraram pontos de encontro culturais.
Não à toa, Carmen Miranda já se perguntava “o que é que a baiana tem?”. Das comunidades que se reuniam, nascera o samba e em seguida o pagode.
Pagode seria um termo usado nas Índias, em tempos remotos. O que o Brasil tem em comum com as Índias talvez seja os colonizadores e a resiliência do povo, e talvez isso explique como a palavra veio parar no Brasil.
“Pagodi” teria relação com templos e os templos teriam relação com grupos e suas manifestações peculiares. Então, alguém fez o paralelo a estas reuniões e festas que aconteciam nos subúrbios cariocas – e que muitas vezes tinham que ser camufladas como religião para não serem canceladas pelas autoridades. Pagode seria festa, reunião, celebração. Mas também ganhou o significado pejorativo de “bagunça”. É, o samba sofreu preconceitos.
Mas enquanto isso, Pixinguinha emprestava toda sua elegância ao choro. Noel Rosa tornava mais rebuscado o gênero. Adoniram cantava que o “Arnesto nos convidou, pra um samba ele mora no Brás” e o movimento fazia ainda mais sentido e se fortalecia.
Histórias ganhavam metáforas, vozes, letras e melodias inesquecíveis, e encontravam eco, se popularizando e conquistando corações. Cada vez mais artistas criaram composições inspiradas pela força do samba, e começaram a surgir particularidades regionais, temáticas e diferenciais na estética musical. E o pagode se diferenciou pela sonoridade, pelas particularidades instrumentais, e também gerou outros subgêneros. O pagode romântico, o pagode brega, o pagode universitário, o pagode gospel…
Chegando às rádios pelos anos 70 e 80, o samba e o pagode eram possibilidades de novas construções e validações identitárias. Os anos 90 trouxeram uma grande variedade de hits e artistas. O que fez muito sucesso nos programas de tv e de rádio na época, hoje é chamado de “clássico” pela geração que assistiu mais às novidades mais de perto. O pagode foi o gênero que alcançou grande relevância na época. A temática romântica se destacou, e a dor de cotovelo “comeu solta” nos anos 90.
Só pra fazer um teste do sucesso dos pagodes nos anos 90, eu digo “Hoje é você quem está sofrendo, amor. Hoje sou eu quem não…”? Quem completou a frase com “te quer”, sabe do que estou falando. Quem conheceu as canções do grupo Raça Negra, dificilmente esquece.
O sucesso “É tarde demais” entrou para o Guinness Book como a música mais tocada num único dia. Só nesta década o grupo gravou álbuns em estúdio em 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998 e 2000. Mas não parou por aí. Quem quiser relembrar algumas pérolas, anota aí para deixar o coração palpitando de saudade:
* – “Recado a minha amada” do Katinguelê,
* – “Temporal” do Art Popular,
* – “Gamei” do Exaltasamba,
* – “Farol das Estrelas” do Soweto
* – “Essa tal Liberdade” do Só pra Contrariar não podia faltar nos bailinhos de garagem.
Clara Nunes foi a primeira mulher sambista a ser gravada no país. Clementina de Jesus foi uma intérprete e compositora descoberta aos 63 anos, e cravou seu nome na história do samba como uma divindade. Beth Carvalho deu o ar da graça em 1969, e ao longo da sua carreira também deu espaço a muitos pagodeiros.
É impossível não citar Almir Guineto com “Conselho” e “Insensato destino”. Nelson Cavaquinho não poderia ficar de fora: composições atemporais, um músico cheio de personalidade e de sucessos sempre regravados. Zeca Pagodinho dispensa apresentações: ele leva o pagode no papo e no nome. Alcione, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Martinho da Vila. São muitos nomes…
O pagode não sai mais de moda, nem a moda sai do pagode. Ferrugem é o nome artístico de Jheison Faide que apareceu nas paradas de sucesso com seu álbum “Climatizar”, em 2015. Vale muito a pena conhecê-lo.
O grupo de pagode Menos é Mais traz um paralelo aos pagodes tão aclamados dos anos 90, e levou o prêmio Multishow em 2020. Allana Sarah é uma pagodeira que canta por protagonismo, e em 2020 gravou uma composição feita para ela, pela musa Ludmilla.
E a Ludmilla, aliás, que gravou seu primeiro álbum de pagode “Numanice” no início de 2021 (mesmo num cenário bastante complicado para a música por conta da pandemia), não mediu esforços para defender que as mulheres devem ocupar mais espaços, e um desses espaços é o pagode.
Investir nas redes sociais tem sido uma forma de divulgação e aproximação com o público, e permite audiência a artistas independentes ou que estejam fora dos padrões da grande mídia. O mestre Jair Rodrigues, com toda a sua alegria, não cansava de dizer: “Seja homem ou mulher, quem quiser pode participar. Eu já disse a você que tem, tem pagode em todo lugar”.
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